Status econômico do varejo na América Latina em setembro de 2025

Visão geral

A região entra no fim de 2025 com crescimento baixo, inflação em queda em vários mercados e um consumidor mais seletivo. O varejo físico perde fôlego em alguns países, mas segue positivo no acumulado de doze meses nos maiores mercados. O comércio eletrônico e os meios de pagamento instantâneos sustentam parte do avanço em volumes, enquanto a renda real e o crédito definem o ritmo por país.

Atividade e PIB

• A CEPAL projeta expansão moderada do PIB regional em 2025, com 2,2 por cento para a América Latina e o Caribe, 2,5 por cento na América do Sul e 1,0 por cento na América Central e México. Em 2026, a expectativa regional sobe para 2,3 por cento. O pano de fundo é a menor demanda externa e incertezas comerciais globais, o que limita investimento e consumo.

Dinâmica por país

Brasil • As vendas do varejo recuaram 0,3 por cento em julho na comparação mensal. Foi o quarto resultado negativo seguido, mas o setor ainda cresce 1,7 por cento no ano e 2,5 por cento em doze meses. O quadro combina desaceleração cíclica, renda ainda pressionada e migração de gasto para serviços.

México • As vendas a varejo medidas pelo INEGI avançaram 1,8 por cento em maio contra abril e 2,5 por cento na comparação anual. Já no varejo organizado, a ANTAD reportou alta nominal de 7,6 por cento em agosto, com crescimento acumulado de 3,6 por cento em lojas comparáveis e 6,2 por cento em lojas totais no ano. A recomposição ocorre com apoio do emprego formal e do crédito, mas com diferença relevante entre formatos.

Colômbia • As vendas reais do comércio minorista subiram 17,9 por cento em julho ante igual mês de 2024. Sem combustíveis, a variação chegou a 21,8 por cento. O emprego no setor cresceu 0,9 por cento. A normalização inflacionária e o corte de juros ajudam a liberar demanda reprimida.

Chile • As vendas do varejo cresceram 5,7 por cento em julho na comparação anual, mas caíram 2,1 por cento contra junho. O mercado segue volátil, ainda sob efeito da queda de renda real vista em 2023.

Argentina • As vendas em supermercados e atacarejos, a preços constantes, mostraram alta anual de 0,8 por cento em junho. O consumo de massa dá sinais pontuais de melhora com a desinflação, embora o nível de atividade siga fraco e o ajuste de preços ainda pese sobre categorias discricionárias.

Preços, renda e margem

• A inflação vem arrefecendo na maior parte da região em 2025, o que ajuda a recompor volumes, mas o consumidor mantém comportamento de busca por preço. Marcas próprias, formatos de desconto e cestas menores ganham espaço. O equilíbrio de margens depende de eficiência logística, renegociação com fornecedores e mix mais enxuto, principalmente em bens duráveis.

Canais e digitalização

• O e‑commerce mantém trajetória de dois dígitos em diversos mercados. A liderança regional segue com plataformas como o Mercado Livre, que registrou forte expansão de receita no segundo trimestre de 2025 e ampliou investimentos em logística. O movimento acelera a competição por prazos de entrega e ticket médio. • O pagamento instantâneo se consolidou como alavanca de conversão, especialmente no Brasil. O Pix alcançou dezenas de bilhões de transações anuais e volumes trilionários em reais, encurtando o ciclo de recebíveis e reduzindo custos. Varejistas integram carteiras digitais, QR codes e crédito no checkout para elevar aprovação e reduzir abandono de carrinho.

Comportamento do consumidor

• O consumidor latino alterna entre racionalidade e indulgência. Compras mais frequentes e cestas menores convivem com picos sazonais em categorias de volta às aulas e eventos esportivos. Em mercearia, canais de conveniência, atacarejo e discounters seguem ganhando share. Em bens duráveis, a troca de linha branca e eletrônicos se concentra em promoções, com recuperação mais lenta.

Logística e custo de servir

• Custos de frete e última milha ainda exigem disciplina de roteirização e adensamento de malha. Times de operações priorizam microfulfillment urbano, lockers e ship‑from‑store para reduzir lead time e manter NPS. A pressão por frete grátis cede quando a comunicação de prazos é precisa e o SLA é confiável.

Investimento e IED

• A entrada de investimento estrangeiro direto voltou a crescer em 2024, com destaque para México e Brasil em cadeias de valor como automotivo, eletroeletrônicos, logística e data centers. Esse fluxo sustenta demanda B2B e cria bolsões de consumo em regiões industriais, beneficiando o varejo local.

O que observar no curto prazo

• Trajetória de juros e crédito ao consumo, com efeito sobre bens duráveis e tíquete médio. • Ritmo do emprego formal no México e no Brasil. • Normalização de inflação na Argentina e sua transmissão para o varejo alimentar. • Diferença de desempenho entre formatos no México e no Brasil, com possível ganho adicional de discounters e atacarejo. • Execução logística, prazos de entrega e monetização de serviços financeiros embutidos no checkout.

Sinais para 2026

• Se a atividade global estabilizar e a inflação seguir em queda, a região tende a preservar crescimento em volumes, com preços mais comportados. Vencerá quem combinar sortimento essencial, marca própria forte, experiência omnicanal fluida e produtividade em loja e CD.

Fontes utilizadas

CEPAL, IBGE, INEGI, ANTAD, DANE, Banco Central do Brasil, McKinsey, Banco Central do Chile, INDEC, Reuters e imprensa especializada.